MEMÓRIAS DE JOSÉ SARAMAGO NA VOZ DA FILHA
No passado dia 14 de outubro, a Escola Secundária de Montemor-o-Novo recebeu Violante Saramago Matos, filha de José Saramago e de Ilda Reis, para uma sessão muito rica em emoções e confidências.
Esta atividade, promovida pela Casa das Letras de Cabrela, por ocasião das comorações do centenário do nascimento de José Saramago, teve como público-alvo as turmas de 12º ano, uma vez que o estudo do autor faz parte do programa curricular deste ano terminal.
Os nossos alunos tiveram assim o privilégio de assistir a esta apresentação, que prendeu a atenção de todos, pelas histórias e memórias partilhadas de uma forma muito pessoal e emotiva.
“Não é tarefa fácil estar aqui …porque eu sou bióloga e não é fácil… as letras ficaram para trás na minha formação. … “Eu estou aqui porque sou filha dele e porque se cumpre um centenário.” Estas foram algumas das palavras com que Violante Saramago Matos iniciou a sessão em que, através de memórias pessoais e histórias marcantes e mais privadas, prestou homenagem e recordou o pai que, aos 54 anos, decidiu deixar a sua profissão de serralheiro civil para ser escritor. “Ele tinha 54 anos! Ninguém nasce aos 54 anos. Há uma história por trás…” Foi partes dessa história por trás do escritor que Violante Saramago Matos contou, com emoção e eloquência.
Falou das origens muito humildes do pai, da pobreza, da “casa de telha vã e chão de terra” dos avós dela, na Azinhaga, onde ele nasceu. “O meu pai foi serralheiro civil, a minha mãe foi datilógrafa. É daqui que eu venho.”, disse-nos com emoção.
Falou também, como é evidente, do pai enquanto escritor e da atribuição do Prémio Nobel de Literatura, em Estocolmo, no dia 10 de dezembro de 1998. Leu o discurso de agradecimento que o pai fez, durante o banquete servido a seguir à entrega dos prémios. Num ambiente em que, segundo as palavras de Violante, “tudo era protocolo, luxuoso, vestidos compridos, fraques e sapatinhos polidos”, o discurso de José Saramago não foi nada convencional. Pelo facto da data de entrega dos prémios Nobel coincidir, nesse ano, com as comemorações dos 50 anos sobre a assinatura da Declaração Universal dos Direitos Humanos, foi um discurso político que Saramago proferiu, denunciando as falhas no cumprimento dos Direitos Humanos.
“Eu tive um pai estranho”, confessou Violante, quando falou do ambiente familiar em que cresceu, da educação que recebeu e desse homem de poucas palavras ditas, mas de muitas escritas, cujo olhar atento e crítico sobre o mundo era verdadeiramente admirável.
Terminou esta sua homenagem com uma pergunta, à qual deu uma resposta que poderá abrir caminhos a alguns dos presentes “Como se faz um escritor? Faz-se lendo… No caso dele foi assim, acumulando uma cultura absolutamente fabulosa.”
Para os mais curiosos e interessados, fica a sugestão oportuna da leitura do livro “De memórias nos fazemos”, que Violante Saramago Matos escreveu e que irá certamente dar a conhecer melhor o homem que foi José Saramago e ajudar a compreender a sua obra.
Pela equipa de comunicação e Divulgação
Teresa Martins