O projeto “Gender Neutr’All” pretende levar à compreensão e à desconstrução de estereótipos envolvendo questões de género, enquadrando-se na prioridade “Inclusão e diversidade em todos os domínios da educação, da formação, da juventude e do desporto” e, mais precisamente, na temática “Obstáculos ligados à discriminação”.

Esta prioridade foi objeto de seleção, pois faz parte das prioridades no tocante às políticas educativas e sociais, tanto a nível mundial, como europeu, encontrando-se, nomeadamente, entre os objetivos da Agenda Educativa 2030 da UNESCO e da Agenda Europa 2030 da EU. Para além disso, em conformidade com a Estratégia para a Igualdade (2020-2030), a igualdade de género constitui m valor essencial da EU, um direito fundamental e um princípio-chave do fundamento europeu dos direitos sociais.

O nosso projeto constrói-se em torno da “interseccionalidade” – combinação dinâmica entre género e características ou identificação pessoais (idade, nacionalidade, religião, etc) e o modo como contribui para experiências de discriminação única – que será considerada como o eixo ou princípio transversal. Neste sentido, trabalhar a igualdade raparigas-rapazes significa trabalhar a igualdade cultural e social.

Reconhecendo o importante papel da escola na formação da cidadania ativa e participada, este projeto colaborativo, que se baseia na colaboração de universidades e de estabelecimentos escolares do ensino secundário, tem como objetivo a produção de módulos de formação e de ferramentas pedagógicas no sentido de apoiar o pessoal docente e desenvolver competências nos adolescentes. A relevância do projeto baseia-se na realidade educativa e social dos países parceiros. Nesta última década, a problemática ligada ao género tomou um importante lugar no seio dos estabelecimentos escolares. O aumento das violências sexuais e sexistas e dos casos de assédio torna-se preocupante e supõe a gestão destes temas por agentes educativos (docentes, diretores, psicólogos, etc) que, muitas vezes, não têm recursos. Além disso, a orientação vocacional continua profundamente ligada à questão de género, situação que persiste, malgrado as recentes transformações nos sistemas educativos: as áreas tecnológicas e científicas continuam a não ser tão escolhidas pelas raparigas. Atualmente, raparigas e rapazes continuam a conformar-se como o que lhes é apresentado como sendo os seus respetivos domínios de competências perante esquemas socioprofissionais marcadamente estereotipados. Tal facto tem consequências, tanto a nível da sua inserção no mercado de trabalho, como na sua vida social (Eduscol, 2021). A criação e operacionalização de um módulo “Igualdade” na formação inicial e contínua dos docentes em França na rentrée 2021 testemunha a necessidade de se preparem os profissionais da educação para a compreensão e para o embate face à persistência das desigualdades, através de um trabalho de consolidação da relação social e de formação para a cidadania participada.

Descrição do projeto

Os estereótipos sexistas constituem uma das principais causas das desigualdades entre homens e mulheres e afetam todos os domínios da sociedade. As expetativas estereotipadas baseadas no que integra a norma para mulheres e para homens, para raparigas/meninas e para rapazes/meninos limitam as suas aspirações, as suas escolhas e as suas liberdades e devem, portanto, ser trabalhadas e entendidas desde a mais tenra idade. Ao contribuir de forma inequívoca para as diferenças de remuneração entre mulheres e homens, os estereótipos sexistas estão ligados, como o demonstraram várias investigadoras e vários investigadores (Mosconi 1994, Héritier 1996), às desigualdades socio-sexuadas. Assim, estão também relacionados com vários outros estereótipos tais como os de natureza racial ou étnica, religiosa ou confessional, ligados à deficiência, a idade ou à orientação sexual, o que pode acentuar as incidências negativas (Conselho da Europa, 2021). Ao contribuir para a reflexão coletiva e internacional na desconstrução destes estereótipos, poderemos ambicionar uma melhor compreensão, por parte da comunidade educativa, relativamente a uma parte significativa de violência escolar, apreendendo pressupostos e trabalhando-os em equipa. Permitir-se-á, também, dar um impulso precoce na orientação profissional dos adolescentes e promover a igualdade de género em todos os aspetos da vida social.

Este projeto, baseado na partilha de práticas entre investigadores e profissionais no terreno, tem por objetivo a criação de ferramentas teóricas e metodológicas. Além disso, as trocas entre adolescentes oriundos de países diferentes contribuirão para o desenvolvimento de competências como o espírito crítico e a argumentação, necessárias no exercício da cidadania participada.

Em França, onde está sediada a URN – coordenadora do projeto – a lei de 2019 alargou os objetivos da inclusão escolar à totalidade dos alunos. O desenvolvimento de uma cultura de igualdade entre raparigas e rapazes faz parte das prioridades da escola inclusiva. Neste sentido, no regresso às aulas de 2021, um módulo sobre a igualdade tornou-se obrigatório na formação inicial e contínua dos docentes (Eduscol, 2021).

Apesar de todos os países europeus estarem envolvidos na promoção da igualdade de género, a situação não é igual em todo o lado. Assim, ao escolher como países parceiros a Grécia e Portugal, países que apresentam resultados abaixo da média europeia, a troca de conhecimentos e de práticas será ainda mais proveitosa, já que as situações a nível nacional permitirão compreender melhor como os estereótipos de género estão enraizados e a partir de que potenciais cruzamentos interseccionais: a riqueza destas trocas internacionais contribuirá para o desenvolvimento de uma cultura da igualdade, trabalhando-se, consequentemente, para a desconstrução desses estereótipos limitadores, através do incentivo ao entrosamento raparigas/rapazes na escola e na orientação profissional.

Objetivos

Os objetivos a atingir dependem de cada grupo-alvo:

– sensibilizar os alunos para a igualdade raparigas/rapazes em todos os domínios da vida social;
– desenvolver o ambiente de trabalho em equipa;
– favorecer o desenvolvimento de formação específica e personalizada, consoante as necessidades das escolas parceiras, acerca da igualdade de géneros e da orientação profissional;
– promover a igualdade de género na formação, na orientação profissional e na sociedade;
– compreender o género como uma construção social;
– Compreender o processo de construção dos estereótipos de género;
– Ajudar os alunos a compreender o valor da educação;
– Diminuir comportamentos sexistas;
– Desenvolver a cidadania digital dos participantes;
– Desenvolver princípios de vida em comum;
– Possibilitar aos participantes a experiência da mobilidade europeia, nomeadamente aos que vivem em regiões geograficamente isoladas;
– Desenvolver a ambição escolar dos alunos participantes;
– Desenvolver competências interculturais nos participantes (alunos, docentes, docentes investigadores);
– Desenvolver competências profissionais nos docentes;
– Mostrar aos alunos que problemáticas comuns existem noutros países membros da EU;
– Consciencializar os participantes dos parâmetros inconscientes que levam à tomada de decisões no momento da orientação profissional;
– Ajudar os docentes a entender a existência de formas latentes de desigualdades sociais;
– Ajudar os docentes e os adolescentes a reconhecer os parâmetros e os preconceitos que presidem à tomada de decisão, às aspirações e às escolhas no âmbito da orientação profissional;
– Desenvolver a relação entre a “universidade e o ensino secundário” – a abertura das universidades e das escolas à sociedade local;
– Desenvolver parcerias internacionais entre as instituições envolvidas;
– Construir redes de investigação internacional acerca da “formação para a igualdade de género”.

Coordenadora: Emília Isaías