O pequeno grande passo

Segunda-feira de manhã, alguém bate à porta do Centro Qualifica. Um bater hesitante. Abri a porta e deparei-me com uma pessoa cheia de vida. Quando digo cheia de vida não me refiro à vivacidade nem à efusão da pessoa em si. Mas sim, a toda a imagem, que emanava uma vida recheada de aventuras e batalhas. Convidei-a a entrar, onde se instalou mesmo à minha frente. Como pessoa, sem nada a perder e com o tempo contado, confidenciou-me o que a inquietava. O que a privava de sono era a oportunidade única de melhorar a sua qualidade de vida e acabar com alguns problemas que arrastava com ela há algum tempo. Tinha-lhe batido à porta, o que sempre sonhou – uma oferta de um emprego melhor. Um emprego estável, bem remunerado, com todos os direitos a que o código do trabalho exige e, ainda, com um subsistema de saúde para poder usufruir de proteção na doença. Assisti, enquanto falava, à luz crescente e brilhante nos seus olhos. Como se de uma luz ao fundo do túnel, para a sua vida, se tratasse.

Felicitei-a. Mas como não me transpareceu que estivesse feliz, questionei: – Então porque é que não está feliz? Há algum problema?

– Sabe -, disse baixinho, e depois de olhar para todo o lado com receio que alguém ouvisse, – é que eu não tenho o 12º ano que exigem nessa oferta de trabalho e isso é um problema.

A Sr. Maria, afortunadamente, teve a coragem e a força de vontade de se dirigir ao Centro Qualifica do Agrupamento de Escolas de Montemor-o-Novo. Esse pequeno grande passo fez com que voltasse apostar nela e na sua qualificação. Esse pequeno grande passo deu início a um processo qualificante, que, com ajuda da equipa do Centro Qualifica, fez com que a vida cheia de experiências, de aptidões, de competências recolhidas ao longo do tempo e da vida, se transformassem numa qualificação equiparada ao nível Secundário pelo nível de competências adquiridas e desenvolvidas nas variadíssimas tarefas que desempenhou em todos os trabalhos que teve. Através deste pequeno grande passo, permitiu-se concorrer e agarrar aquela oportunidade que a vida teimava em lhe recusar-lhe.

Este é mais um exemplo que me preenche enquanto técnico, deixando-me de coração cheio, pois cada vez que um candidato completa mais um percurso qualificante, sei que ajudo a fazer a diferença na vida das pessoas.

Técnico de Orientação, Reconhecimento e Validação do Centro Qualifica do Agrupamento de Escola de Montemor-o-Novo,

Pedro Firmino

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